Um
tigre não proclama a sua “tigritude”, ele salta
Wole Soyinca
Wole Soyinca
Bem sei que para abordar qualquer assunto de modo
digamos, politicamente correcto, não se deve fulanizar. Mas se a justiça em Portugal é, consabidamente, uma merda
- um mundo de conchavos tácitos, obediências cegas, conveniências surdas,
conivências mudas e iniquidades que gritam, como fazê-lo sem olhar para os seus
rostos mais proeminentes? – Ainda mais quando se põem a jeito.
.
No estado em que jaz a justiça em Portugal é, no mínimo,
original que um dos seus agentes principais profira abobrinhas como estas:
- O inefável procurador da república disse numa entrevista
que nunca – nunca - foi pressionado por um político (que devem temer o meu
mau-feitio, disse ele), ah valente. E disse mais. Disse que gostaria de ser
lembrado como um beirão com coragem.
.
Mas o procurador Pinto Monteiro não é um tigre. Ou se for, é
um tigre português. Beirão. Os tigres beirões não são valentes, são astutos. Nunca dão murros em facas bicudas. Não
dão saltos, aninham-se.
No que me diz respeito, e como
assim de repente não me consigo lembrar de algum salto que tenha dado, passarei
a lembrar-me dele como alguém que gostaria de ser lembrado como um beirãozinho
valente. Um tigre de papel.
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