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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

o pingo doce, da série “O rosto da classe dirigente”



Para um comerciante, até a honestidade 
é um valor especulativo Charles Baudelaire
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A ética é uma espécie de higiene íntima da moral; tal como a estética o é, suponho, do gosto. Tanto uma como outro (o gosto e a moral) são do domínio do preconceito, como enunciei aqui, a propósito do humor. E ninguém está a salvo do preconceito. Nem mesmo eu, que gosto de me ver como um livre-pensador.
Embora não seja propriamente um puritano, cultivo um sincero desprezo pelo dinheiro, que estendo generosamente aos seus adoradores; e nutro uma verdadeira repugnância pela cupidez, essa “qualidade” tão valorizada por estes mas que eu considero a matriz de tudo o que é venal - isto nem sequer é filosófico, ideológico, ou político – é uma questão de carácter; algo do domínio do que alguém chamou integridade.
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Apesar disso, sou mais levado pela estética (sou um artista, caralho) do que pela ética. Como Vinícius, também acho que “Beleza é fundamental”. Ou seja, apesar de tudo sinto-me muito menos insultado pela venalidade (sei que a carne é fraca) do que pela fealdade.
A consciência aguda de que o horrível está em toda a parte e que a sua nefanda omnipresença tudo conspurca faz-me medo -o medo é uma doença que desperta em mim, como noutros seres humanos, os mais baixos instintos; como frémitos intolerantes, ânsias totalitárias,  pulsões fundamentalistas.
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O que, de algum modo, me mitiga este padecimento é a prática ponderada, mas imoderada, do humor, que tudo relativiza. O humor livre salva qualquer santo homem (não é o meu caso) de se transformar num Savonarola. Mas deixa-me contudo achacado de uma estranha melancolia. Para essa moléstia só encontro remédio e cura através da penitência do insulto. Sobretudo se a minha integridade (e a minha inteligência) se sentirem previamente insultadas por um trambolho feioso e armado aos cágados como Alexandre Soares dos Santos, essa puta velha e hipócrita que cheira mal da boca e não se lava por baixo.
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Alexandre Soares dos Santos é, pois, um apóstolo de uma moral que não faz a sua higiene íntima. Para mim, insultar um filho da puta destes é um prazer sem culpa, uma doce exaltação; um santo remédio para a bílis negra.
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-Alexandre Soares dos Santos é o merceeiro que contratou António Barreto, um sociólogo pomposo e pateta, para presidir a uma Fundação qualquer-coisa-dos-santos, que lhe pertence. É este sábio remunerado que lhe prefacia os tratados que ele vende, a preços baixos claro, nas lojas Pingo Doce. Na pena deste poeta avençado, o pensamento político do seu amo merceeiro corre caudaloso, profundo e perfumado, como a Ribeira dos Milagres.
-Alexandre Soares dos Santos é um merceeiro infame que até da honestidade tira dividendos; foi enriquecendo a preços baixos, enquanto todo o país empobrecia.
-Enquanto ninguém de bom-senso e de bom-gosto aceitaria ser avaliado por uma entidade que não respeitasse, Alexandre Soares dos Santos é um filho da puta infecto e crapuloso que nunca se coibiu de criticar asperamente a ridícula elite política que lhe permitiu enriquecer impunemente e o condecorou por duas vezes.

-Alexandre Soares dos Santos é um javardo hediondo e milionário que deu lições de moral, patriotismo e probidade fiscal aos portugueses e agora vai para a Holanda porque afinal, sabe bem pagar tão pouco
Mais palavras para quê. É um porco de preços baixos. Pingo Doce.
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2 comentários:

cid simoes disse...

Caricatura e texto com o alto nível habitual.

platero disse...

abraço

maravilha