Goodfellas

Este é um retrato possível de Portugal. Pelo menos de um certo Portugal de classe baixa que via nas receitas do capitalismo popular a opção mais óbvia para subir na vida..

O capitalismo popular foi um conceito implementado por Ronald Reagan e Margareth Thatcher nos anos oitenta do século passado para implodir as razões dos movimentos sociais e cujas receitas foram adaptadas ao terroir local pelo prof. Cavaco, com o êxito que se conhece.
Segundo os seus mentores, o êxito deste modelo depende, em grande parte, de um empreendorismo sem escrúpulos, de um crédito ilimitado e, last but not the least, de uma justiça dotada de uma subtil vista grossa. A verdade é que teve sucessos retumbantes. Como o fim do comunismo, que não podia competir com tal receita; mas também flopes iniludíveis, como a célebre bolha que originou a actual crise económica global. Não se pode ter tudo.

Contudo se houve alguns, muitos, que acreditaram apenas no crédito fácil, outros houve, poucos, que acreditam sobretudo na trafulhice, no cambalacho e na sacanagem, enfim no delito impune, (o crédito fácil vem depois, naturalmente) como os únicos lubrificantes eficazes deste "elevador social" - como Duarte Lima, um dos alunos mais aplicados (com Oliveira e Costa ou Dias Loureiro, quase todos oriundos das mais baixas classes) da turma do professor Cavaco.

Só que Duarte Lima, pelo que parece, na ânsia de subir na vida acrescentou outro delito à lista já cabeluda de lubrificantes da engrenagem do seu elevador social pessoal: o homicídio.
A ver vamos.
Se a justiça portuguesa continuar a fazer vista grossa, como é sua vetusta tradição, tal poderá significar que:
- o elevador pessoal de Duarte Lima (e o capitalismo popular) funciona mesmo - até com um cadáver na engrenagem.
- O professor Cavaco ficará aliviado. Quiçá feliz (ele próprio aliás, também é oriundo da classe baixa e vejam onde chegou).
- Eu não terei que nascer duas vezes para ser tão honesto como eles.

O retrato de Portugal ficará, por fim, acabado. É a pincelada que falta.

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