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domingo, 15 de novembro de 2009

A bílis negra

Acontece aos melhores. Mesmo espíritos analíticos, habituados a observar o mundo através do filtro cínico do distanciamento e do humor são tomados, amiúde ou sazonalmente, por uma moléstia diagnosticada na antiguidade por Hipócrates (sim, esse).
O douto esculápio da antiguidade, na sua teoria dos humores, sustentava que “a influência de Saturno leva o baço a segregar mais bílis negra alterando o humor do indivíduo, escurecendo seu humor e levando-o ao estado de melancolia”.
É o spleen, termo inglês que significa baço e do qual modernamente o poeta francês Baudelaire se socorreu para explicar aos seus contemporâneos o mal de que padecia o jovem príncipe Hamlet, ele próprio e até muitos ilustres desconhecidos.
É verdade que a observação atenta do comportamento dos homens, aliada aos fenómenos naturais (nesta altura do ano está em vigor a mais básica e deprimente das leis da Física, a da Gravidade) e atmosféricos (o mundo visível enche-se de frias e humidas tonalidades grisalhas), contribui para escurecer o meu humor e aproximá-lo do tom da bílis de Baudelaire; ou do príncipe Hamlet.
Contudo, o Outono também é a altura para colher maçãs.
Estas são da minha mais jovem macieira.

1 comentário:

CS disse...

E eu que tinha a pretensão de conhecer todas as canções de Brel...