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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O fado


As Nações Unidas declararam recentemente que o tango passará a ser considerado património cultural da humanidade. Os 24 membros do Comitê Intergovernamental de Patrimónios Intangíveis da UNESCO conferiram protecção cultural à música e dança que caracterizam o tango.
O Tango é uma música de putas e chulos. Floresceu nos subúrbios degradados das metrópoles do Rio da Prata no início de século vinte. Discépolo dizia que era “um pensamento triste que se pode dançar”.
Mas o Fado, com o seu inimitável ritmo caga-cão-caga-cão, também aspira ao reconhecimento universal. Tem as mesmas origens populares desclassificadas no estuário de um rio, mas ao contrário do tango, o Fadinho é casto: não existe aqui, explícita ou implícita, nenhuma espécie de tensão sexual (embora o êxtase místico leve os aficionados a cognominar os seus maiores cultores com epítetos misteriosos como “língua de prata” ou “garganta d´oiro”). Ah, e não se dança. Chora-se. De pé. Olhos em alvo. Xaile preto e pequenos requebros. À guitarra e à viola.
O nosso homem na UNESCO, o filósofo Manuel Maria, já tem um “bom dossier” de candidatura e parece que já está a fazer lobbying e até, imaginem, sensibilização. Ah fadista!Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado.Eu sempre achei que o que distingue o Fado do Tango é uma tristeza sem dimensão. Enfim, uma questão de grandeza.
E não, o post anterior nada tem que ver com Vitorino.

1 comentário:

CS disse...

É a nossa sina. É o nosso triste fado já estaFADO. É assim, prontos.