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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

João César Monteiro


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Já uma vez aqui escrevi que, se na Figueira da Foz a normalidade é quase sempre medíocre, a excelência é por vezes superlativa.
O cineasta João César Monteiro é o paradigma ilustrado desta acepção. Isto, contudo, não é unânime; segundo a wikipédia, o pobre João tem muuuitos detractores. Demasiado inconformista, incómodo e sui generis para ser uma unanimidade. Foi, ainda segundo a Wikipédia, um dos poucos cineastas filiados no Novo Cinema que não prosseguiu estudos universitários; foi expulso do colégio de Mário Soares porque contraiu uma “perigosíssima” doença venérea, “Pensei, então, que entre a política e as fraquezas da carne devia existir qualquer obscena incompatibilidade e nunca mais fui visto na companhia de políticos”; terá mesmo dito, mais tarde, que “a escola é a retrete cultural do opressor”.
Enfim, foi um português sem mestre.
Não consta igualmente que tenha deixado discípulos.
Contudo o pobre não era nenhum fellini. Era mais dado às palavras do que às imagens; talvez por isso tenha inventado o filme–esmola e, por fim, o cinema preto, isto é, sem imagens, o que enervou sobremaneira os patrocinadores e foi um escândalo para o numeroso e exigente público português da sétima arte, para quem o cinema é uma sequência de imagens vertiginosa e ordenadamente umas atrás das outras do princípio até ao happy end como nos filmes americanos caralho. Claro que isto divertiu enormemente o bom do César Monteiro que no fundo, no fundo, era uma alma de prazeres simples.
Enfim, a despeito de problemas sérios com patrocinadores, a mise-en-scéne em geral e a imagem em particular, tornou-se iconoclasta; e talvez por isso (verve e talento não lhe faltavam) um mestre da linguagem. Ora isto é algo muito mal visto no país da “liberdade respeitosa”. O seu humor sardónico e nem sempre bem-disposto caía mal. “Não se nasce português, fica-se”, dizia ele.
Mas os portugueses nunca se ficam. O coitado, para além de receber sempre as subvenções às mijinhas, nunca mereceu uma comenda no dez de Junho. Nem sequer a consagração, na toponímia da sua terra.
Mas merece um lugar à parte, uma espécie de panteão, no meu Álbum Figueirense.
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Aqui podeis certificar-vos do seu talento para a escrita, e no vídeo, da sua verve na sétima arte: numa cena do seu último filme "Vai e Vem" e na pele do personagem João Vuvu, ele esclarece uma amiga de longa data, em detalhe, como se pratica o Broche Chinês e, de seguida, contextualiza politicamente esta "tecnologia de ponta".

1 comentário:

CS disse...

Um pintelho para ele era mais importante que qualquer comenda.