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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A fé das moscas


“Ó tu que, ao que se diz, criaste tudo o que existe no mundo; tu de quem não sei nada; tu que apenas conheço por palavras e pelo que homens que se enganam todos os dias me podem ter dito; ser bizarro e fantástico a que chamam deus, declaro formalmente, autêntica e publicamente que não acredito nem um pouco em ti, pela excelente razão de que não vejo absolutamente nada capaz de me persuadir duma existência absurda que nada no mundo atesta com solidez.“


Donatien-Alphonse François, Marquês de Sade (História de Juliette)

A polémica de Caím descambou. Desceu ao nível da academia. Definitivamente, o país dos doutores e do pedigree não perdoa a José Saramago as suas origens proletárias, não ter um curso “superior”, não acreditar em deus nosso senhor, ter merecido um prémio Nobel e escrever livros que são lidos num vasto universo de idiomas.
Esta gente carregada de pergaminhos académicos não entende Harold Bloom, o mais que tudo dos críticos norte-americanos (cultura que tanto veneram) que, no seu livro Genius: A Mosaic of One Hundred Exemplary Creative Minds ("Génio: Um Mosaico de Cem Exemplares Mentes Criativas"), considerou José Saramago "o mais talentoso romancista vivo nos dias de hoje" (tradução livre de the most gifted novelist alive in the world today), referindo-se a ele como "o Mestre". Declarou ainda que Saramago é "um dos últimos titãs de um género literário que se está a desvanecer".
Depois da insinuação torpe e javarda de que as proposições do escritor se inscreveriam numa estratégia de marketing (como se o mercado português do livro não fosse peanuts para Saramago) e do triste episódio do texto envinagrado de inveja aleivosa de Vasco Pulido Valente, agora é outro "valente" (este é um editor) que vem à carga com esta brilhante e exigente “análise literária” carregada de adjectivos - depois de uma breve busca pelo Google, fiquei a saber que o valente “crítico” literário é o satisfeito editor de José Rodrigues dos Santos e de Miguel Sousa Tavares; há coisas fantásticas não há? - São as que se explicam por si mesmas. Com vultos da edição como este não admira que o panorama editorial e a cultura em Portugal sejam o que se sabe.
Mas é bem feito para Saramago: ele já devia saber que "apelar á reflexão" num país de cretinos convictos e devotos iluminados é como escarafunchar num charco sórdido e fétido com uma vara demasiado curta: uma pessoa salpica-se.
E agora, José? Ser-se ateu em Portugal não é pêra doce.
É uma experiência existencial muito próxima do “martírio” dos cânones católicos; é viver a vida toda numa espécie de eterno purgatório de perplexidades, numa dúvida excruciante:
- se deus não existe, quem foi o filho da puta que criou as moscas e os imbecis?
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4 comentários:

CS disse...

«se deus não existe, quem foi o filho da puta que criou as moscas e os imbecis?»
Neste país de doutores seria um bom tema para um doutoramento.
Os nossos intelectuais progressistas, matreiros, assistem ao espectáculo lá do palanque das suas benesses. É nestas alturas que os topo!

Leonel disse...

Tudo bem, camarada?

o cu de judas disse...

de facto é pregar no deserto, eu depois de uma brutal dor de cabeça, falta de ar, sensação de céu da boca inchado, etc, resolvi juntar-me aos imbecis, eles acabam por ter sempre razão neste santo país, uma linha curva passou a ser uma linha recta, viva os imbecis, os escroques, os corruptos, acho que também vou ser corrupto, também está na moda, não é que não tenho lutado contra a maré, mas ainda fui gosada, de funcionária com 9,9 de classificação, passei a funcionária imbecil, é uma alegria

o cu de judas disse...

de facto é pregar no deserto, eu depois de uma brutal dor de cabeça, falta de ar, sensação de céu da boca inchado, etc, resolvi juntar-me aos imbecis, eles acabam por ter sempre razão neste santo país, uma linha curva passou a ser uma linha recta, viva os imbecis, os escroques, os corruptos, acho que também vou ser corrupto, também está na moda, não é que não tenho lutado contra a maré, mas ainda fui gosada, de funcionária com 9,9 de classificação, passei a funcionária imbecil, é uma alegria