“Todo o universo poderia ser conduzido por uma única lei,
se essa lei fosse boa.”
Marquês de Sade
se essa lei fosse boa.”
Marquês de Sade
Agora que, como nunca, paira sobre a justiça a sombra dúbia da iniquidade, receio que, depois do riso, só nos reste a oração.
Lembrei-me desta, que consta de um pequeno livro que comprei há muitos anos e reúne os “argumentos ateístas” do Marquês de Sade.
O divino marquês, sem nunca ter sido julgado, foi prisioneiro de dois séculos e de três regimes: a Monarquia, a Revolução e o Império. Esteve cativo um total de vinte e sete anos. O pobre marquês, muito dado aos ímpetos libidinais, foi sobretudo vítima dos seus ímpetos panfletários. Enfim, teve as suas contas com a justiça. Consta que chegou mesmo a ir preso por dívidas. Morreu internado num hospício. Não, não era louco, embora também não fosse santo; mas se o fosse receio que seria contestável.
Santificado foi Nun’Álvares, mas não consta que tenha rezado assim.
Rezemos pois a oração que o divino marquês nos ensinou:
Lembrei-me desta, que consta de um pequeno livro que comprei há muitos anos e reúne os “argumentos ateístas” do Marquês de Sade.
O divino marquês, sem nunca ter sido julgado, foi prisioneiro de dois séculos e de três regimes: a Monarquia, a Revolução e o Império. Esteve cativo um total de vinte e sete anos. O pobre marquês, muito dado aos ímpetos libidinais, foi sobretudo vítima dos seus ímpetos panfletários. Enfim, teve as suas contas com a justiça. Consta que chegou mesmo a ir preso por dívidas. Morreu internado num hospício. Não, não era louco, embora também não fosse santo; mas se o fosse receio que seria contestável.
Santificado foi Nun’Álvares, mas não consta que tenha rezado assim.
Rezemos pois a oração que o divino marquês nos ensinou:
Oração
“Ó meu deus, tenho um único favor a pedir-te e não mo queres conceder por mais insistentes que sejam as minhas súplicas; esse favor, essa graça insigne, seria ó meu deus, que não escolhesses para meus correctores homens ainda piores do que eu, que não me abandonasses, a mim, que sou culpado apenas de vulgaríssimas e pequeníssimas faltas, nas mãos de tratantes calejados no crime, para quem infringir as tuas leis não passa de uma brincadeira a que se entregam a todo o momento. Põe o meu destino, ó meu deus, nas mãos da virtude, que é a tua imagem neste mundo, porque só os que a respeitam podem reformar o vício; não escolhas para meus regentes, ó melhor dos seres, um monopolizador, um ladrão de pobres, um bancarroteiro – um sodomita – um flibusteiro, um aguazil da inquisição de Madrid, um jesuíta despadrado e uma alcoviteira; já que tenho de ser sacrificado, ó meu deus, já que está escrito no teu grande livro que me fizeste nascer para servir de pasto a porcos, e visto que sabeis melhor do que ninguém que o único fruto que posso recolher daí é o de tornar-me ainda pior do que já sou, devido ao suplemento de ódio que serei obrigado a sentir pelos meus irmãos, faz pelo menos com que o meu exemplo possa servir, pelo teu santo poder, aos meus compatriotas e que os vis tratantes que acabo de nomear, constatando, pela ineficácia dos seus tratamentos na minha pessoa, a impossibilidade de ocultar doravante os seus horrores sob a máscara de uma tão quimérica igualdade, imaginem finalmente outros meios para escravizar os seus semelhantes aos prodigiosos desregramentos da sua vingança e da sua cupidez. Amen. Fructus belli.”-------------------------------------------------------------------------------------------------
Esta Oração foi escrita em 1782 e publicada pela primeira vez em 1949.
O desenho ao alto foi inspirado no retrato imaginário do Marquês de Sade, de Man Ray.
Esta Oração foi escrita em 1782 e publicada pela primeira vez em 1949.
O desenho ao alto foi inspirado no retrato imaginário do Marquês de Sade, de Man Ray.
Sem comentários:
Enviar um comentário