.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O pássaro verde

.
.
.
Esta “escultura”, que está no meu jardim, é mais uma das minhas experiências com “achados”: uns ferros retorcidos, despojos de uma demolição, com os quais “compus” uma “espécie” de escultura sem volume. Como um simples desenho no espaço.
Trata-se de um conceito (mais um) inventado pelo grande Picasso. (A importância de um criador mede-se pela quantidade de novos signos que introduz na linguagem, e aí Picasso é imbatível; tanto que todos nós comunicamos ainda com imensos signos “inventados” por ele.)

Este conceito utilizou-o Picasso em 1928 no seu estudo para homenagem a Guillaume Appollinaire. A “construção” alcança, na sua versão exposta no Museum of Modern Art em Nova Yorque, a altura monumental de mais de quatro metros. Segundo Ingo F. Walther “Para a compreensão desta escultura sem massa e sem peso, desenhada no espaço, flutuando no tempo, é elucidativo procurar a história da sua origem na obra do próprio Apollinaire. O seu conto “Le poète assassiné” contém a espantosa descrição de um monumento para o poeta morto Croniamantal. À pergunta, como e de que material ele imagina o monumento, o escultor interrogado responde: ”Quero erigir uma estátua do nada, como a poesia e a fama.” Foi o próprio Picasso que apontou para o seu entusiasmo sobre este “monumento do nada, do vazio”. De resto, os seus estudos para este monumento a Apollinaire, que se aproxima mais do espírito do poeta que mil eloquentes elogios, foi recusado pela comissão por ser “demasiado radical”. As esculturas transparentes de Picasso, que se apoderam do espaço, representam em contrapartida mais um importante impulso para a história da escultura, que viria a fecundar mesmo os maiores escultores.”
.
A Isabel possui, há muitos anos, uma pequena xilogravura com uma ilustração ingénua e uma citação de Göethe: “Coloquei a minha casa sobre o nada; é por isso que o mundo inteiro é meu”. Quando em 2001 adquirimos finalmente a casa que agora habitamos e que entre nós, não me ocorre porquê, baptizei de Sítio do Pássaro Verde, lembrei-me de lhe fazer “um monumento do nada, como a poesia e a fama”.
Eis uma explicação, obscura mas possível, para este Pássaro Verde que desenhado sobre o nada, se vai apoderando do espaço.
,
.

Sem comentários: