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terça-feira, 1 de abril de 2008

Fellini

“Fellini é dos poucos que fizeram do cinema arte moderna.
O único cuja obra imensa pode ser posta no mesmo plano de Picasso e de Stravinski.
Seus filmes lançam um olhar magicamente imaginativo e ao mesmo tempo terrivelmente lúcido sobre o mundo moderno, sobre sua grotesca sexualidade, o seu embrutecimento, o seu exibicionismo.”
Milan Kundera




(Federico Fellini, desenho)

Está patente por estes dias e até Maio, no Espaço 39 Degraus da Cinemateca de Lisboa, uma exposição de 50 desenhos, caricaturas e um auto-retrato de Federico Fellini, feitos entre 1954 e 1993, e actualmente parte da colecção da Fundação Fellini.

A obra gráfica de Fellini é pouco conhecida, embora o jovem Federico tenha começado a sua carreira pelo desenho, pela ilustração e pela caricatura. O grotesco corrosivo e exagerado deste meio de expressão terá sem dúvida crismado para sempre o espírito do futuro director de cinema. O desenho foi sempre para Federico Fellini um instrumento primordial no trabalho de exploração e construção do seu universo intensamente imaginado.

Fellini dizia que “nada se sabe, tudo se imagina”. Por isso os seus filmes começavam no papel. Desenhados.
Amarcord, por exemplo, é uma das mais espampanantes ilustrações da tese segundo a qual a caricatura é a essência da arte do século vinte.
E eu não me recordo de quantas vezes eu já vi esse filme mágico, desmesurado, nostálgico, burlesco, subversivo, sem história, sem princípio, nem meio, nem fim, nem bons, nem maus; esse caleidoscópio aleatório de personagens grotescos e desmedidos como o tio louco, a freira anã, o acordeonista cego, o padre sonhador, Volpina, a prostituta ninfomaníaca, Gradisca e os desmedidos atributos da vendedora de tabaco ou a festa da chegada da Primavera e uma neblina branca que tudo cobre como um manto de humor doce, corrosivo e melancólico.
Tampouco me recordo de outro filme que me tenha deixado impressão visual tão duradoura.
Do que me recordo é da sua atmosfera, criada por outro italiano inspirado: Nino Rota.

Ouçam.
Recordam-se?
E se puderem, vão à Cinemateca ver os bonecos do Fellini.

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom.
Coloque a música que estava anteriormente. Se for possível, claro...

Anónimo disse...
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