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sexta-feira, 31 de maio de 2024

O jornalismo de interjeição


 

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As grandes atracções dos programas de variedades televisivos já não são, como antanho, os artistas (os cantores, os recitadores, os músicos, os palhaços, os acrobatas, etc.) mas os apresentadores. Sinal dos tempos, os programas informativos também se transfiguraram e constituem agora todo num novo género de espectáculo-de-variedades. Um espectáculo que nunca acaba. João Adelino Faria é um desses novos apresentadeiros, carismáticos e glamorosos - autênticas vedetas - do espectáculo non-stop que é o entretenimento informativo na televisão.

Se se nutre uma fixação mórbida pela conflitualidade vácua e pela parlapatice obtusa, e não se tem o mínimo interesse ou simples curiosidade intelectual pelo pensamento ou discurso de quem quer que seja, não há nada melhor do que assistir a uma entrevista ou a um debate conduzidos ou moderados por um apresentador-vedeta como o “jornalista” João Adelino Faria. Num programa apresentado por João Adelino a atracção nunca (jamais) é o entrevistado mas o entrevistador. O fulcro da entrevista não é ouvir a palavra e a versão do convidado mas dar vez, e voz, à narrativa do apresentador.

Faria pergunta mas não quer saber. Nem deixa ouvir. Adelino é um mestre da arte da objecção, da interrupção, da interjeição - em latim, interjeição quer dizer “meter entre”, por serem palavras que se encaixavam entre as sequências do discurso - Adelino está constantemente a meter-se entre a pergunta que ele próprio fez e o subsequente discurso de quem responde. João interrompe, Adelino objecta, Faria argumenta; sempre frenético, categórico e muito senhor de si, em constantes, insistentes e repetitivas demonstrações de afirmação ego-maníaca.

O que fica, de si e do seu patético e arrogante trabalhinho, é a constatação de uma obscura e constrangedora compulsão para gostar de se ouvir a si mesmo com a jactância conspícua e deleitada de um marcelo a tirar selfis com papalvos; ou de um cão, também velhaco, a mijar num poste.

Na RTP chamam entrevistar e moderar a este estranho mester. Suponho que até o remuneram. Eu chamo-lhe jornalismo de interjeição. Trata-se de uma das mil e uma variantes, ou modalidades, do jornalismo que desinforma, que imbeciliza, ou de merda.

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Já ilustrei e comentei vários casos notórios e bem-sucedidos da prática de outras modalidades deste género de jornalismo. Tantos que arquivei todos os verbetes sob uma mesma etiqueta: jornalismo de merda. Aqui ao lado, na prateleira.

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2 comentários:

Manuel M Pinto disse...

"Etiqueta" muito acertada e bem escolhida: «jornalismo de merda»!...

cid simoes disse...

Mais ou menos virulentos todos se comportam como este rafeiro que quando é contrariado parece destilar veneno.