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“-O que a leva a pintar? Porque pinta?
- Pinto para dar face ao medo, como acabei de
dizer a uma professora de Artes Plásticas que me fez a mesma pergunta.
– Mas hoje já não há medo aqui. Havia nos
anos em que pintou estas obras?
– Acha que não há medo agora? Não sente
medo? Eu sinto.
– Sente medo ou medos, de quê?
– Sinto muito medo!”
Paula Rego, ao “Correio da Manhã”
Paula Rego é alguém
muito invulgar.
Como artista, é peculiar. Nestes tempos em que
tudo é cada vez mais conceptual, Paula faz compulsivamente (com as
mãos ambas) algo tão físico que já quase nenhum artista faz:
desenhar.
Como portuguesa, também é uma excepção incaracterística:
não faz aquilo que distingue os portugueses: rodriguinhos,
eufemismos, paninhos quentes. Paula escarafuncha na ferida exposta
com a curiosidade mais infantil, o rigor mais cirúrgico e o deleite mais
conspícuo.
Paula não tem frio nos
olhos. O seu trabalho tem uma característica manifesta que partilha com Picasso:
uma consciente, sincera e explícita crueldade.
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Paula Rego morreu hoje,
aos 87 anos, em Londres.
O desenho, tal como o
texto, é de 2008.
1 comentário:
Deixamos de ter a presença física de mais um génio das artes plásticas.
O medo não lhe metia medo, pintava-o,desenhava-o. Firme nas atitudes sem vacilar. Partiu mas ficou o seu legado e a sua obra. Descanse em paz.
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