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quarta-feira, 8 de junho de 2022

Paula Rego (1935-2022)


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“-O que a leva a pintar? Porque pinta?

- Pinto para dar face ao medo, como acabei de dizer a uma professora de Artes Plásticas que me fez a mesma pergunta.

– Mas hoje já não há medo aqui. Havia nos anos em que pintou estas obras?

Acha que não há medo agora? Não sente medo? Eu sinto.

– Sente medo ou medos, de quê?

– Sinto muito medo!”

 Paula Rego, ao “Correio da Manhã 

 

Paula Rego é alguém muito invulgar.
Como artista, é peculiar. Nestes tempos em que tudo é cada vez mais conceptual, Paula faz compulsivamente (com as mãos ambas) algo tão físico que já quase nenhum artista faz: desenhar.
Como portuguesa, também é uma excepção incaracterística: não faz aquilo que distingue os portugueses: rodriguinhos, eufemismos, paninhos quentes. Paula escarafuncha na ferida exposta com a curiosidade mais infantil, o rigor mais cirúrgico e o deleite mais conspícuo.

Paula não tem frio nos olhos. O seu trabalho tem uma característica manifesta que partilha com Picasso: uma consciente, sincera e explícita crueldade.
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Paula Rego morreu hoje, aos 87 anos, em Londres.

O desenho, tal como o texto, é de 2008.


1 comentário:

X Dias Longo disse...

Deixamos de ter a presença física de mais um génio das artes plásticas.
O medo não lhe metia medo, pintava-o,desenhava-o. Firme nas atitudes sem vacilar. Partiu mas ficou o seu legado e a sua obra. Descanse em paz.