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terça-feira, 14 de março de 2017

O Rentes

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Os ideais dos gramáticos reaccionários não podiam deixar de aclamar o estilo de um homem cuja obra é uma escola de imbecilidade. Porque o que, em Vieira podemos levar à conta de uma loucura de génio, é em Bernardes a cretinice obsessiva de um filho natural de judeu e de mãe dissoluta, que quer todos os cristãos à escala da sua castração mental.
Jorge de Sena
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Rentes de Carvalho é a mais recente estrela literária do firmamento das letras luzitanas. O êxito contudo aconteceu-lhe já tarde na vida e de fora para dentro. Rentes tornou-se conhecido com um êxito editorial na Holanda, onde está radicado há mais de cinquenta anos. É verdade, no país das tulipas e das tamancas.
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Mas Portugal depressa o descobriu - diga-se que para ter sucesso no país do sol-posto (a ocidental praia lusitana) não há como ter sucesso lá fora. Os tugas adoram vencedores.
De origem humilde e sucesso tardio, o Rentes tornou-se porta-voz do que a nossa direita não confessa mas professa; uma espécie de intelectual orgânico invertido, ou às avessas; um saramago-de-direita. Um maitre a penser cujo determinismo tremendista encanta os leitores do Observador e os fãs de Francisco José Viegas, leva-os ao sétimo céu: apesar de ter obtido êxito e vencido na vida, o Rentes declama peremptório que isso não é para todos.
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Rentes é um prato cheio para quem aprecia um português “bom de lei”, como eles dizem. Na sua escrita (vê-se que leu com proveito o padre Manuel Bernardes) não há cá modernices, as histórias começam sempre no princípio e acabam invariavelmente no fim; e no meio, que é onde está a virtude - como certamente sabem os devotos do Padre Manuel Bernardes - é aí que ele parcimoniosamente dispõe as virgulas, os advérbios e até os complementos directos. Eu tenho contudo para mim que o que encanta esta turba na escrita do Padre Bernardes (e na do Rentes) não é tanto a bela prosa como aquilo que vem embrulhado naquele português bom de lei que tanto exasperava Jorge de Sena: o fedor a bafio, a imbecilidade e ao mais reaccionário e xaroposo conformismo.
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O Rentes é careca. O Rentes é holandês. E fala como isso, como um skinhead  holandês. O Rentes diz cousas que eles nem pensam (eles não pensam) mas sentem; o Rentes fala-lhes ao coração.

O Rentes vota na extrema-direita. Não por convicção – diz ele – mas por protesto. Por reacção, portanto.
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2 comentários:

cid simoes disse...

Já sigo esta abantesma há muito tempo, muito publicitado pelos seus congéneres cá do burgo.

Rogério G.V. Pereira disse...

Foi dois em um
por economia de espaço

Abraço