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domingo, 3 de abril de 2016

O caso Ferreira da Silva

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Em 1968, num texto-panfleto generosamente editado por si próprio, Luiz Pacheco, reconhecendo o impasse artístico do escultor e ceramista Luis Ferreira da Silva no meio provinciano  das Caldas da Rainha de então, incitava publicamente o artista (a quem já na época reconhecia talento e potencialidades), a aceitar uma bolsa de especialização em Paris - “porque o que faz um Artista interessa a todos”.
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Ferreira da Silva foi. Mesmo não tendo tirado nenhum proveito artístico ou especialização pessoal dessa bolsa, o facto é que o que ele fez depois disso e até hoje interessa a todos. Ferreira da Silva tornou-se um dos mais notáveis artistas portugueses do século vinte, um artista que não gostava de museus, preferia a arte pública - ao ar livre. Foi o autor, entre outras maravilhas, dessa obra-prima (inacabada e em muito mau estado de conservação actual) de ousadia, humor livre, experimentalismo engenhoso e desmesura, pouco comuns entre nós, que é o jardim da água no centro hospitalar de Caldas da Rainha.
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Soube hoje que o Mestre morreu. No passado dia oito de Março, num hospital das Caldas. Soube-o por acaso. Os grandes meios de comunicação não julgaram que interessava a todos a mais leve referência.
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Eis o que me deu para reflectir no interesse público da arte. E no interesse do público pelo que faz um artista, hoje, no país de Luiz Pacheco. E de Luís Ferreira da Silva.
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Ao alto (a foto é da minha Carolina) estou eu, na minha janela virada a norte, a pensar.
É óbvio, puta que os pariu a todos, que não cheguei a nenhuma conclusão redentora.
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