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sábado, 30 de maio de 2015

A arte dos comunas apreciada plo estado e plos mercados

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Em tempos de crise, económica e de valores, a perversidade inerente a esse clima moral muito específico afere-se pelas bizarrias excêntricas dos leilões de arte. É este o caso.

O “Almoço do Trolha”, de Júlio Pomar, um quadro a óleo de 1947, acaba de pulverizar recordes leiloeiros de arte do palácio do Correio Velho. Uma semana antes, o mesmo quadro tinha sido declarado  em processo de classificação pela Direcção-Geral do Património Cultural, (facto inédito com obra de um artista vivo). O que implica que, com tal protecção legal, “o seu proprietário, seja ele quem for”, não poderá “vender a obra sem prévia comunicação” à direcção-geral do Património” nem permitida a sua saída para fora do território nacional, de acordo com a Lei de Bases do Património Cultural”.
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Resumindo e concluindo: o neo-realismo, arte de comunistas, acaba de ser avalizado, em simultâneo, pelo Estado e pelos mercados.
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A triste ironia da coisa é que é precisamente quando os direitos laborais em Portugal se encaminham para os padrões dos anos quarenta do século vinte que o mercado da arte resolve consagrar uma pintura neo-realista que representa a condição humana do trabalhador nesses anos de chumbo.
Nesse tempo, diz Pomar, "Eu tinha vinte anos e não via futuro à minha frente. A minha perspectiva era vir a ser professor”. Hoje, considera que, em certo sentido, a falta de esperança que vê nos jovens portugueses "é semelhante à que sentia nos anos do antigo regime".
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à parte):
desconheço os critérios que levaram o estado e os mercados a consagrarem deste modo uma obra do neo-realismo. Esta súbita validação-cultural / valorização-monetária do neo-realismo escapam decerto ao excelso critério  do regedor da cultura da Figueira da Foz. Desconheço por exemplo, a este respeito, se entre o espólio que Joaquim Namorado legou generosamente ao município constava algo assinado pelo autor de “o almoço do trolha”; de qualquer modo, e segundo qualquer das perspectivas, parece-me cada vez mais inexplicável e desastrosa a cessão desse espólio, inteiramente de graça, ao Museu do Neo-Realismo de Vila Franca de Xira. Sob qualquer ponto-de-vista chama-se, receio, delapidação de Património.
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3 comentários:

cid simoes disse...

Já nos estava a fazer falta.

Fernando Campos disse...

Tenho andado ocupado com o meu jardim.
Nesta época do ano reclama-me sempre os cuidados.
Mas no dia seis lá estarei. Eu ligo-lhe.

cid simoes disse...

Não sei o que é que este "thank you" pretende mas aparece a despropósito em todos os blogues.