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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Da inevitabilidade do ser


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As coisas que um homem diz e as que faz dizem muito, por vezes tudo, sobre a espessura do seu carácter, ou seja, sobre a substância de que é feita a sua integridade, a essência do seu Ser mais profundo.
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Miguel Almeida acha que todos estamos condenados a obedecer a uma lei, mesmo iníqua. Que é uma inevitabilidade; uma coisa assim a modos que definitiva, como a morte. E até filosofa sobre isto e escreve-o nos jornais.
Eu sou de outra opinião.
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Eu penso que só um bandalho está condenado a obedecer a uma lei iníqua. É evidente que uma tal lei também condena um homem decente, mas apenas à desobediência.
Penso todavia que ser-se um bandalho não é uma inevitabilidade, é uma escolha; uma questão de carácter. E de liberdade. De livre-arbítrio, portanto. Também penso, por inerência, que a única inevitabilidade que uma lei iníqua impõe a um homem decente é o imperativo da sua revogação.
Mas não sou só eu que penso assim. Os redactores da Constituição da República Portuguesa também o pensaram e até o consagraram, no artigo 21º. Mas concedo que seja natural que, por ter sido eleito deputado pelo pêpêdê tal como outros palermas, Miguel Almeida o desconheça.
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Miguel, tal como muitos outros do seu meio, é daqueles cuja concepção de vida está alicerçada numa escala de valores balizada entre dois sentidos únicos: mandar e obedecer. Toda a sua vida aliás se tem resumido a isso mesmo, lamber cus enquanto espera a sua vez de, enfim, mandar fazê-lo a outros (o que fará, certamente, assim que puder).
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Miguel Almeida pertence àquela estirpe de políticos que acha que o facto de ter sido eleito pelo povo lhe dá um jenesécoá de distinto, de sensato, de sábio, de equilibrado e que lhe concede a suprema graça das musas filosofantes (deve ser por isso que assina merdas estultas nos jornais a justificar os mais esconsos conchavos), mas não dá. 
Existem aliás provas vivas disso mesmo. O actual presidente da república, por exemplo, foi impune e consecutivamente eleito pelo povo e no entanto continua a ser o que sempre foi: um merdas, um bandalho (só um bandalho acharia lícito e normal beneficiar 140% num negócio em dois anos; um homem decente, ao ser-lhe proposta tal trampolinice depreenderia logo que alguém ficaria a lerpar outro tanto e chamaria a polícia). - Ou seja, um merdas será sempre um merdas, sufragado ou não pelo voto. Isto sim é inevitável.
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No entanto, há algo no pensamento, digamos político, de Miguel Almeida, que me enche de perplexidade: se para ele a obediência às leis "não é opção, é obrigação", e é "inevitável", como a morte, porque não age Miguel com esta em conformidade com o seu, digamos,  pensamento? 
Dito de outro modo, se está condenado a morrer (como todos nós helas) porque não se mata já Miguel? Hum? Humm?...
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É claro que esta é uma pergunta retórica. Todos sabemos que Miguel não levará a assertividade aos limites da coerência filosófica.
O mais certo é que Miguel Almeida não só não irá morrer longe como é bem capaz de ser eleito pelo povo, aqui bem perto.
Miguel Almeida até pode fazer-se eleger presidente da república, como Cavaco.
Mas, tal como este, não deixará nunca de ser o que sempre foi. É inevitável.
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