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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Rodin

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Quem, como eu, faz da prática do desenho um método quotidiano de reflexão sobre o mundo tem uma relação, de certo modo privilegiada embora quase sempre embaraçosa, com os seus maiores cultores – os mestres.
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Os velhos mestres não se limitaram, como simples poetas, a dar uma visão impressionista da cor local e do estado do tempo, no seu tempo. Foi antes como filósofos que, através do raciocínio, da reflexão e do cálculo se “apoderaram” da sua época - e até do tempo e do seu estado - os seus desenhos são uma espécie de “visão global” ou expressão “canonizada” disso mesmo.
Matisse, por exemplo, dizia mesmo que o desenho é a expressão da posse das coisas: “Um desenho não será a síntese, o final de uma série de sensações que o cérebro reteve, reuniu, e que uma nova sensação acciona, de tal modo que eu executo o desenho quase com a irresponsabilidade de um médium? Ele encarava o desenho “não como um exercício de destreza particular, mas sim como um meio de expressão de sentimentos íntimos e descrições de estados de alma”; os seus desenhos funcionam “como meios simplificados para dar mais espontaneidade à expressão”.
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Creio que esta relação com o desenho é cada vez mais rara. O entendimento do desenho como uma disciplina que permite a apreensão do sentido profundo das coisas, praticamente não existe já na chamada arte contemporânea. Noto mesmo que entre pintores, a prática do desenho é encarada hoje com ostensivo desprezo. A arte contemporânea deixou de ser uma linguagem com vocação universal, para passar a ser um dialecto restrito, muito difundido mas pouco entendido.
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Estamos longe dos tempos de Giotto, Brunelleschi, Miguel Ângelo, Leonardo, Dürer, Rembrandt, Goya, Daumier, Seurat, Klimt, Schiele, Posada, Matisse, Picasso, ou Hockney; demiurgos que se apossavam, através do desenho, de tudo o que viam. 
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É por isso que a notícia de uma exposição de desenhos “perdidos” de Auguste Rodin me deixa entusiasmado. Também ele pertence a essa longa linhagem de grandes mestres para quem, como referia Ingres, “o desenho é a probidade da arte”.

A foto, de Edward Steichen, é de 1902. Também é magnífica.

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