A
caridade cobre com um véu todos os defeitos dos homens René Descartes
.
A capacidade humana para a sordidez é insidiosa. Sai-me
ao caminho ou entra-me em casa pela televisão, pela rádio e pela internet.
O refúgio em paraísos
artificiais, como o da beleza e da arte, não passa para mim de uma doce, mas triste ilusão. E a pura e simples abstracção é-me, tecnicamente,
impossível.
A “concertação social” aí está para mo lembrar.
.
A minha única terapia é o desenho. Neste caso, a caricatura.
Sei que é algo pueril, mas o retrato sucinto e sumário de um estafermo
proporciona-me um certo alívio – curto, mas delicioso – enfim, uma espécie de breve
redenção.
.
O “rosto da classe dirigente” de hoje é Pedro Mota Soares, o ministro que faz
da Solidariedade e da Segurança Social
uma inefável, imarscecível e abnegada obra de caridade.
De cada vez que se desloca a uma qualquer zona degradada,
a bordo do seu Audi não sei quantos topodegama, em visita a uma instituição privada de solidariedade social
apinhada de novos pobrezinhos, o senhor ministro da caridadezinha dá-lhes uns
cêntimos e muitas recomendações. Que não gastem tudo em vinho e que têm que ser
poupadinhos, diz-lhes ele - porque não
há dinheiro - foi aliás por isso que ele foi de mota à tomada posse
(assistiu a tudo, assinou e jurou
solenemente com o capacete debaixo do braço). Os pobrezinhos não esquecem e
aplaudem, agradecidos.
.
1 comentário:
Para me acalmar tomo uns "comprimidos" de João Gilberto.
Enviar um comentário