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sábado, 17 de dezembro de 2011

O fascismo científico



“O mundo que o português criou” é uma obra do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, que “informou” o pensamento de Adriano Moreira e as ideias que o governo de Salazar utilizou para justificar a sua política colonial no pós-guerra, contornando as sanções da ONU e as pressões da comunidade internacional para que procedesse à descolonização.
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Gilberto Freyre é autor de uma teoria segundo a qual os portugueses são particularmente dotados para o convívio com outras etnias e teriam mesmo criado uma espécie de “democracia racial” na “primeira civilização moderna nos trópicos”. Mas foi Adriano Moreira que transformou este  chorrilho de disparates numa verdadeira ideologia. Entre outras medidas eivadas de humanismo luso-tropical, o delfim de Salazar, quando ministro do Ultramar, reabriu o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, para, a expensas da então colónia de Angola, civilizar o indigenato recalcitrante com doses ponderadas e cristãs de privação de liberdade, trabalho forçado e porrada a horas certas.
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Pois bem, quarenta anos após a independência de Cabo Verde, a elite cultural desta ex-colónia portuguesa decidiu, por critérios “exclusivamente científicos”, atribuir a Adriano Moreira, o grau académico de honoris causa - o primeiro atribuído por uma universidade de Cabo Verde em dez anos de ensino superior no arquipélago. Rezam as crónicas que o papel do ex-ministro português do Ultramar foi bastante elogiado na cerimónia.
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Esta é a prova que faltava de que no “mundo que o português criou”, a estupidez fundamentada na palermice é reconhecida cientificamente; com grau académico honorário e tudo.

Este reconhecimento científico também prova, definitivamente, que “o mundo que o português criou” é redondo. Um círculo autêntico; e vicioso, claro. Como um tamanco.

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1 comentário:

cid simoes disse...

Civilizadores? E o genocídio levado a cabo no Brasil e em África com a benção da tal santa madre igreja?