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quarta-feira, 27 de julho de 2011

O álibi do Miguel



Ontem à tarde realizou-se uma importante reunião do executivo da Câmara Municipal da Figueira da Foz.

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Eu estive lá. Discutia-se o futuro do Mercado Municipal.

O salão nobre exibia uma magnífica moldura humana. Estava como nos seus grandes dias, cheio como um ovo. O vereador Miguel Almeida apresentou-se num esplêndido tailleur em tons de terra (queimada), onde rutilava a cor de laranja de uma gravata. O da cultura, sem o seu chapéu de palha. O jogo era a rigor. O vereador cem por cento Daniel Santos, de mãos largas, distribuía cumprimentos enquanto o seu colega Vítor Coelho, mais contrito, se apresentou de braço ao peito, já lesionado. Os jornalistas tomaram posição, nos seus auscultadores. O presidente dirigiu os trabalhos.

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O vereador Tavares respondeu em tom monocórdico e oficial a um munícipe que o questionava sobre um assunto qualquer que me escapou. A coisa só começou realmente a aquecer quando o presidente deu a palavra a Custódio Cruz, presidente da Associação de Concessionários do Mercado Municipal.

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Mas a estória conta-se assim: o executivo pretende alojar provisoriamente os comerciantes do mercado numa instalação semi-rígida, deslocalizada no parque das gaivotas, enquanto decorrerem as obras necessárias à reabilitação do edifício do mercado. No entanto, estes comerciantes desconfiam que se está a preparar mais um cambalacho imobiliário. Que tudo se trata de um estratagema para os desalojar definitivamente, pois o executivo serve-se de um regulamento, supostamente redigido pelo vereador Miguel Almeida em 1998 - ao tempo de Santana Lopes - que consagra a perda de direitos adquiridos pelos concessionários.

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Pelo que me foi dado perceber da discussão, o projecto para as obras (que supostamente seriam comparticipadas em 80% pelo QREN) não existe – ou está no segredo dos deuses - pelo que eu deduzo que o correspondente orçamento também. Quanto ao famoso regulamento, que o executivo quer fazer valer, fiquei elucidado da sua putativa legalidade ao saber que nunca foi discutido publicamente nem publicado em Diário da República.
Entretanto, a discussão atingiu os píncaros quando Miguel Almeida partiu a loiça (quebrou um copo) tentando explicar, arguindo um papel sem cabeçalho com as assinaturas dos concessionários, no qual estes supostamente concordavam com o supracitado regulamento. Foi aqui que Custódio Cruz foi aos arames (entre outras coisas que são verdade, chamou qualquer coisa ao vereador Daniel Santos, ao que este respondeu aos gritos “não é verdade, não é verdade”) e o presidente se levantou e mandou toda a gente para intervalo e os vereadores para os gabinetes.
Eram então quase cinco em ponto da tarde. Hora do chá. Saí ordeiramente e fui refrescar-me com uns amigos.

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Eis senão quando, hoje de manhã, ao ler os jornais na net, fiquei a saber que o facto político do dia para o jornalista da LUSA foi, não a reunião, arrumada numa linha noutro jornal com “peixeirada suspende reunião de Câmara da Figueira da Foz”, mas sim algo que aconteceu durante a citada reunião: um desvio de trinta euros da carteira da vereadora Cardoso das finanças, que esta tinha deixado no seu gabinete. Há coisas realmente importantes.

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Tudo o que posso dizer é que pelo menos deste desvio colossal, o vereador Miguel Almeida está inocente. E o presidente. E a restante vereação. E até o jornalista da LUSA, himself. Posso afiançá-lo e até testemunhar. Ninguém arredou pé durante a reunião. Eu estava lá.
Temos o mesmo álibi.

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1 comentário:

cid simoes disse...

E o Fernando Campos já verificou se lhe limparam o porta-moedas?