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domingo, 16 de maio de 2010

Antero


O que Diz a Morte

Deixai-os vir a mim, os que lidaram;
Deixai-os vir a mim, os que padecem;
E os que cheios de mágoa e tédio encaram
As próprias obras vãs, de que escarnecem...
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Em mim, os Sofrimentos que não saram,
Paixão, Dúvida e Mal, se desvanecem.
As torrentes da Dor, que nunca param,
Como num mar, em mim desaparecem. -
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Assim a Morte diz. Verbo velado,
Silencioso intérprete sagrado
Das cousas invisíveis, muda e fria,
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É, na sua mudez, mais retumbante
Que o clamoroso mar; mais rutilante,
Na sua noite, do que a luz do dia.
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Antero de Quental, in "Sonetos"- 1855
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Qualquer visão moderna do poeta das Odes Modernas - e este desenho não é excepção - deve imenso à imagem que dele deixou Columbano neste prodigioso retrato*: “Estou a vê-lo com os seus olhos muito azuis e as
barbas loiras. Vestia bem, sem afectação e sobriamente... Era calmo, delicado, afável, nenhuma tragédia transparecia na sua maneira quase alegre”.
Só um artista superdotado seria capaz de ver neste cavalheiro gentil o genial e atormentado vidente que haveria de descobrir que para se sair do reino (agora é uma República) da estupidez – a única via definitiva é o suicídio.
Outros, como Jorge de Sena, igualmente atormentado e genial, foram ainda mais longe: chegaram à América, onde consta que até foram bem sucedidos - mas descobriram amargamente que, se lograram sair disto, isto jamais saiu deles.
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*Segundo Antero “Está muito bem como pintura, mas idealizado, como todas as composições desse pintor neo-vellazquiano, no sentido do fantástico e do tenebroso”. Pois.
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