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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Portugal e a cultura do nabo






O país inteiro salivou impressionado com a inusitada verve enciclopédica do deputado Aguiar Branco. No seu discurso do 25 de Abril, o nobre deputado conseguiu, entre um arroubo de erudição google e um assomo de um sentido de humor tão equívoco e tortuoso como sofisticado, defender o liberalismo mais esgrouviado com o recurso a citações de marxistas, leninistas, integralistas e até de cantores populares.
Trata-se do mesmo país que se revê, babado, na visão estratégica do seu chefe de Estado. Este visionário inspirado aponta o mar e as indústrias criativas e culturais como saída para Portugal. Nem mais. Este é, receio, o mesmo superdotado vidente que, quando primeiro-ministro, e obedecendo cegamente a “directivas comunitárias”, aniquilou as frotas pesqueiras e a construção naval; é ele ainda o mesmo ousado demiurgo que dando tanta importância à cultura, lhe retirou a dignidade de ministério, transformou-a em secretaria de estado e entregou-a de mão beijada a uma anta como Santana Lopes, com os resultados que se conhecem.
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É revelador que o culto que os portugueses prestam à cultura seja da mesma estirpe daquele que os merceeiros dedicam á honestidade: só o praticam quando compensa. Um caso paradigmático deste axioma é ilustrado aqui e aqui com pormenores escatológicos.
Ou seja, os portugueses são adeptos da cultura do nabo, não porque o vegetal seja rico em cálcio e pobre em calorias (ou pelo seus delicados sabor e aroma) mas sim porque têm esperança que na estrumeira do quintal lhes nasça um de proporções tão avantajadas que lhes permita ganhar um qualquer concurso idiota ou, sei lá, abrir o telejornal das oito.
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