Honoré Daumier foi um dos maiores artistas franceses do século XIX. Foi um mestre da estampa, da litografia e um escultor e pintor de mérito. A sua forma de desenhar a chuva, a neve e os efeitos da luz anteciparam em vinte anos as descobertas dos impressionistas. Mas, para além disso, foi o “inventor” da caricatura política na imprensa. Foi o único desenhador gráfico a cumprir prisão em toda a História da imprensa francesa (em 1832, cumpriu seis meses porque desenhou o rei Louis-Phillippe como Gargântua) e, talvez por isso, a sua verve foi particularmente encarniçada com “les gens de la Justice”. A sua pluma transformou a figura do advogado no arquétipo do burguês cheio de vento e sem escrúpulos.
.Como não pensar em Honoré Daumier a propósito deste regulamento para um concurso de cartoons e caricaturas elaborado pelo Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados?
– O prémio é interessante, o tema aliciante e as condições sensatas, mas leiam as “notas finais” (ponto 9 e seguintes) e ficarão a saber que, comprando apenas um desenho, todos os outros (originais ou cópias) “ficarão a ser da propriedade plena do Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados para todos os efeitos (…)” e que “qualquer reclamação será decidida sem direito a recurso”.
Trata-se do mesmo artifício capcioso e pulha utilizado há uns meses (para angariar legalmente ilustrações, desenhos e caricaturas praticamente “à borla”) por um dos maiores grupos económicos do centro do país aquando da fase de lançamento do seu “diário de grande circulação e prestígio”. Elucidativo, não? Já o meu avô dizia que “quem com putas joga o vinte, ou fica pobre ou pedinte”.
.Não deixo de achar curioso que tão distinta Ordem, um grémio de patuscos que se reclama como baluarte do Estado de Direito e “dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos”, continua afinal, em sua própria casa, 150 anos depois, a corresponder em traços gerais ao arquétipo fixado no cobre pelo buril certeiro do grande Daumier.
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-ao alto, os advogados, um soberbo esboço de Honoré Daumier.
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– O prémio é interessante, o tema aliciante e as condições sensatas, mas leiam as “notas finais” (ponto 9 e seguintes) e ficarão a saber que, comprando apenas um desenho, todos os outros (originais ou cópias) “ficarão a ser da propriedade plena do Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados para todos os efeitos (…)” e que “qualquer reclamação será decidida sem direito a recurso”.
Trata-se do mesmo artifício capcioso e pulha utilizado há uns meses (para angariar legalmente ilustrações, desenhos e caricaturas praticamente “à borla”) por um dos maiores grupos económicos do centro do país aquando da fase de lançamento do seu “diário de grande circulação e prestígio”. Elucidativo, não? Já o meu avô dizia que “quem com putas joga o vinte, ou fica pobre ou pedinte”.
.Não deixo de achar curioso que tão distinta Ordem, um grémio de patuscos que se reclama como baluarte do Estado de Direito e “dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos”, continua afinal, em sua própria casa, 150 anos depois, a corresponder em traços gerais ao arquétipo fixado no cobre pelo buril certeiro do grande Daumier.
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-ao alto, os advogados, um soberbo esboço de Honoré Daumier.
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1 comentário:
Os artistas é que se deviam unir e não concorrer.
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