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Numa época que valoriza acima de tudo a imagem (mesmo desprovida de conteúdo), quando tudo o resto se desmorona há, paradoxalmente, quem se preocupe com os símbolos.
A República faz cem anos e já conheceu melhores dias.
Por todo o lado (dizem) há sinais gritantes da mais óbvia degenerescência. A dissipação dos valores republicanos é um facto indesmentível. E no entanto, se não se vê ninguém preocupado com a substância do regime, há quem se preocupe com a sua iconografia.
Joana Vasconcelos, a artista que transforma os símbolos kitch do quotidiano tuga em ícones sofisticados de exportação (o pimba-chic, muito apreciado em Inglaterra), atira-se agora a um símbolo de outra dimensão. Ela acha que o busto da República está desactualizado; que devia retratar "uma mulher mais jovem, de outra época, uma mulher contemporânea".
Artista do regime (ela é amiúde escolhida para representar o país em certames internacionais de arte onde, lá fora, para grande gáudio seu, todos a acham muuuito “exóticaaaa”) pertence à comissão das comemorações da República e, apesar de não ser a sua “especialidade”, penso que tem tudo para ser encarregue da empreitada de “actualizar” a imagem da República aos novos tempos da contemporaneidade; talvez mesmo sob a forma de ajuste directo.
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A República faz cem anos e já conheceu melhores dias.
Por todo o lado (dizem) há sinais gritantes da mais óbvia degenerescência. A dissipação dos valores republicanos é um facto indesmentível. E no entanto, se não se vê ninguém preocupado com a substância do regime, há quem se preocupe com a sua iconografia.
Joana Vasconcelos, a artista que transforma os símbolos kitch do quotidiano tuga em ícones sofisticados de exportação (o pimba-chic, muito apreciado em Inglaterra), atira-se agora a um símbolo de outra dimensão. Ela acha que o busto da República está desactualizado; que devia retratar "uma mulher mais jovem, de outra época, uma mulher contemporânea".
Artista do regime (ela é amiúde escolhida para representar o país em certames internacionais de arte onde, lá fora, para grande gáudio seu, todos a acham muuuito “exóticaaaa”) pertence à comissão das comemorações da República e, apesar de não ser a sua “especialidade”, penso que tem tudo para ser encarregue da empreitada de “actualizar” a imagem da República aos novos tempos da contemporaneidade; talvez mesmo sob a forma de ajuste directo.
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Penso que será mesmo a artista melhor colocada para - com a sua panóplia exuberante de soluções bricolage (pensos higiénicos, talheres de plástico, naperons em patchwork e outras soluções inventivas geniais) - dar à República a imagem actual da sua verdadeira substância.
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Sim, porque a moça “recicla conceitos”.
E no entanto é aí que está o busílis: para muitos, habituados como eu ao busto de Simões de Almeida (sobrinho), a República é um conceito algo “platónico”, cuja nudez, de uma sensualidade atenuada, eu diria mesmo espartana ou mesmo frígia, desencoraja alguns tipos conhecidos de lubricidade e até outros entusiasmos menos cívicos.
Temo que o conceito reciclado por Joana Vasconcelos, (isto é, passarmos de um conceito ideal e intemporal para um conceito mais aproximado da realidade contemporânea) abra uma "caixa de Pandora", ou seja, que o choque do auto-reconhecimento e identificação confunda os cidadãos, precipitando a república numa dissipação insidiosa de costumes, encorajando a depravação e o vale-tudo; enfim, a anarquia, essa iniquidade.
E no entanto é aí que está o busílis: para muitos, habituados como eu ao busto de Simões de Almeida (sobrinho), a República é um conceito algo “platónico”, cuja nudez, de uma sensualidade atenuada, eu diria mesmo espartana ou mesmo frígia, desencoraja alguns tipos conhecidos de lubricidade e até outros entusiasmos menos cívicos.
Temo que o conceito reciclado por Joana Vasconcelos, (isto é, passarmos de um conceito ideal e intemporal para um conceito mais aproximado da realidade contemporânea) abra uma "caixa de Pandora", ou seja, que o choque do auto-reconhecimento e identificação confunda os cidadãos, precipitando a república numa dissipação insidiosa de costumes, encorajando a depravação e o vale-tudo; enfim, a anarquia, essa iniquidade.
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8 comentários:
Com tanto chulo a mamar a dona república necessita é de mais tetas.
Sim, eu também acho que essa coisa... de actualização de busto, não é mais do que uma dica para um bom ajuste directo.
ao corajoso incógnito que se permitiu dar-me "algumas dicas".
Excelentíssimo:
Neste blogue emito opiniões que não vinculam mais ninguém. Não aceito por isso a soez alusão a terceiros. Compreendo a discordância e concedo de bom grado o contraditório a toda a gente, desde que devidamente identificada.
Não tenho o hábito de esgrimir argumentos com escrevinhadores incógnitos. Por isso, o seu comentário foi apagado.
Todavia, de futuro, terei todo o gosto em publicar as suas opiniões, decerto fundamentadas, estados de alma e até insultos (eu acho que o insulto é uma forma legítima de expressão, alguns são verdadeiras obras de arte), desde que devidamente assinados. Com esse desiderato ficaremos todos a saber igualmente os seus elevados padrões de qualidade.
Até lá, sem consideração.
Correcção: não foi um icógnito que comentou, mas sim, um anónimo.
Posso possuir nome ou não.
Pelos vistos, para si, possuí-lo tem mais interesse do que uma opinião.....
Estranho tomar V. palavras como "inveja", "presunção" e outras parecidas utilizadas no meu comentário como insultos, aliás "insultos" que V. tão prontamente apagou.
V. não veínculou nada nem ninguém? Não me parece.
V. farta-se de veincular....parece-me sim, ter um profundo horror de uma qualquer e modesta crítica.
Acha-se no direito de vincular o trabalho de Joana Vasconcelos às mais variadas críticas: tudo bem. Em minha opinião utilizou-se da sobranceria fundamentalmente para a classificar.
Ai do artista que não sabe conviver com isto.
Por este lado dou por encerrado este pequeno assunto: a borracha é sua, mas não se esqueça de que ainda sobram muitos lápis neste país........
Excelentíssimo (de novo, e para acabar):
Conceda-me o direito de julgar de dúbio interesse alimentar uma discussão com alguém que desconheço e que não se identifica, que desconhece a semântica das palavras "incógnito" e "anónimo".
E que confunde "vínculo"
com "veí(n)culo?".
E tem razão, só reconheço validade a uma opinião autenticada.
E não, não tem razão quando diz que tenho "um profundo horror a qualquer e modesta crítica"; já exponho o meu trabalho há quase trinta anos e nunca tive problemas com ninguém que se tenha debruçado com um mínimo de seriedade intelectual sobre o meu trabalho.
E sim, acho que tenho o direito a criticar o trabalho de Joana Vasconcelos; e foi o que fiz, com humor, ironia e algum sarcasmo, mas sobretudo com sinceridade. Responsabilizo-me pelas minhas opiniões. Assinei em baixo. Quero com isto dizer que "mato a cobra e mostro o pau".
Já o senhor(?), senhora(?), menino(?), menina(?), "atira a pedra e esconde a mão".
Até 18 de Maio está patente no Museu Colecção Berardo, no CCB, uma exposição de Joana Vasconcelos.
Esta reúne cerca de 40 trabalhos que representam os seus últimos 15 anos de trabalho.
Convido-o a ir ver: verá que os sarcasmos e as ironias contidas na obra desta artista não têm absolutamente nada a ver com os seus,esses sim escondidos atrás de um ridículo e pseudo-intelectual "cachimbo", onde v. Excia dá baforadas provincianas e desconhecidas.
Vá você.
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