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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A "phoda" - concerto para grunhos, podões e motosserra


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Tenho pelas árvores um fascínio que vem da infância e que se renovou quando há uns anos, depois de muitos devaneios e hesitações, adquirimos por fim (eu, a Isabel e a nossa filha) em Maiorca, “uma casa com árvores”.
Se com essa opção de uma vida descobri em mim talentos que desconhecia (como os de pedreiro, carpinteiro, electricista e canalizador) também tive (a necessidade aguça o engenho) que descobrir os segredos da poda para recuperar o pequeno pomar envelhecido e abandonado. Devo dizer que depressa aquela antiga fascinação infantil se transformou num profundo respeito por esses seres silenciosos e enigmáticos, prodígios de uma generosidade despojada de qualquer religião; ou moral.
Descobri (após alguns erros) que a poda supõe conhecimento e compreensão profundos do “funcionamento“ interno de uma planta. É uma operação delicada que se quer parcimoniosa e que deve exercer-se exclusivamente em função das “necessidades” da árvore. Há pessoas que ensinam isto.
.Contudo, o que se passou com os plátanos do Largo da Feira Velha em Maiorca, não é poda, é serração. Uma barbaridade a céu aberto. Ou melhor, é phoda, com “h” (já alguém criou um blogue com este nome, dedicado inteiramente a esta modalidade de inverno, praticada nas árvores ornamentais em muitos dos mais insuspeitos municípios portugueses).
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Os animais que perpetraram esta selvajaria (não há que ter medo das palavras) têm nome e, pelos vistos, impunidade: Filipe Dias, o jovem presidente da Junta de Freguesia de Maiorca que, não contente, ainda terá mandado arrasar um bosque de eucaliptos adjacente ao Parque do Lago, alegadamente para saldar uma dívida (da Junta) de trinta mil euros(!). Quanto ao vereador do Ambiente, terá soltado esta pérola de suficiência, humor duvidoso, superioridade presumida e, quiçá também, alguma estupidez natural: "ainda são vícios do passado, difíceis de controlar, porque estamos aqui há pouco tempo" - o que não é bem a verdade pois o “vício” pode até ser “antigo” e “difícil de controlar” mas o executivo da Junta, apesar de vicioso, “está aqui” há tão “pouco tempo” como o da Câmara.
Mas não desanimem, perseverem. Para quem conhece o eleitorado da Figueira e seus contornos, apesar de recém-chegados, têm ambos uma marca do prestígio que é tudo para ficar: são uns verdadeiros autarcas-toyota.
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A imagem (de ontem de manhã) é bem o retrato alarve, bisonho, grotesco e boçal, mas fiel, da choldra triste e nefanda que é este país profundo.
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5 comentários:

Luis Melo disse...

Excelente! É exactamente isso! Uns animais que resolveram fazer uma asneira irreparável. Uns ignorantes e incompetentes.

Manel disse...

Caríssimo,
O meu amigo já reparou nos phodões que os grunhos da jf da Tocha deram e contituam tesudamente a dar às árvores do arraial da feira?

Abraço
manel

CS disse...

Ainda não há muito tempo foi editado um folheto com uma fotografia esclarecedora:
«podar não é matar».Mas esses tipos além de broncos são ceguinhos.

Ângela Borges disse...

Além da atitude do executivo da Junta, é triste e lamentável o comentário do Sr. Vereador pois para quem não sabe, existe um despacho publicado pelo anterior Presidente da Câmara, onde está bem explícito, que nenhuma árvore do espaço público poderá ser abatida sem a sua prévia autorização (e mesmo assim o seu corte teria de ser muito bem justificado).

Poderemos acusar o anterior mandato de muita coisa mas, quanto a este assunto o Eng. Duarte Silva era bastante sensível e tenho a certeza que não perdoaria tal acto de vandalismo. Assim é estranho que um vereador que enquanto esteve na oposição fosse tão interventivo na defesa do Concelho e agora que está numa posição com possibilidade de decisão, se acobarde e defenda o indefensável.

Quanto ao presidente da junta, bem... nem vale a pena tecer comentários... as acções falam por si! Vale a pena referir que um presidente de junta não manda sozinho. Existe também um secretário e uma tesoureira, e o que dois não querem um não poderá fazer. Assim parece-me que estas decisões “criminosas" terão muito mais do que um rosto.

Gostaria também de informar – para quem não sabe – que a desculpa de arrasar um eucaliptal com mais de 50 anos para saldar dívidas, não passa de isso mesmo... Uma desculpa. Afinal estas dívidas são resultantes do atraso nas transferências camarárias. Ou seja dívidas a curto prazo saldadas.

Para além disso a Junta de Freguesia possui património imobiliário (doado por um cidadão com prévia autorização de venda em caso de necessidade), que poderia vender, sem necessitar de cometer actos “criminosos” contra o ambiente e directamente contra árvores (seres vivos grandiosos que sofrem em silêncio).

Como engenheira florestal, poderia explicar mil e uma razões pelas quais a rolagem feita aos plátanos do largo da Feira Velha, o abate dos majestosos eucaliptos do Parque do Lago, o abate de parte do povoamento misto de pinheiros bravos e carvalhos (alguns destes com 55cm de diâmetro), junto ao campo de futebol (é de salientar que este povoamento tinha sofrido uma intervenção de limpeza de matos e encaminhamento dos carvalhos em 2008, por uma Equipa de Sapadores Florestais da Câmara Municipal), não deveriam ter sido feitas.

Mas limito-me a perguntar como vai querer o presente executivo da Junta de Freguesia de Maiorca saldar a dívida contraída aos seus munícipes privando-os e privando as gerações futuras de usufruir de espaços com exemplares de árvores majestosas que proporcionaram e proporcionavam momentos de lazer saudáveis?

E como vai esse mesmo executivo, alguma vez, conseguir olhar para a população sabendo que condenou dezenas de árvores à "morte lenta" e sabendo que este "crime" foi visualizado por muitas dezenas de crianças. Sim porque estas árvores "amputadas" estão junto a um jardim-de-infância e a 50 metros de uma escola primária! São estes os exemplos, de desrespeito pelos seres vivos que uma autarquia pretende dar às nossas crianças?

Depois de toda a polémica a envolver estes actos, o executivo da Junta parece não se arrepender. Afinal uma semana depois, foi o Parque de Merendas junto à Fonte, o alvo de mais uma acção deste executivo. Desta vez foram feitos rebaixamentos em plátanos com aproximadamente 20 anos, que cresciam neste parque, em porte livre. Será que o Sr. Vereador do pelouro do Ambiente vai continuar a deixar passar impunes estes actos?

Ângela Borges - Engenheira Florestal - Residente em Maiorca

Nuno disse...

Para o senhor Luis Melo e bom que saiba o que escreve e as palavras que utiliza porque não sei se já ouviu falar em difamação...