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quinta-feira, 4 de junho de 2009

Carlos Paredes



Primeiro, uma declaração de interesses.
Nunca gostei de fado. Nem sequer gosto daquilo que chamam guitarra portuguesa, que é uma coisa que os portugueses tocam com dedais na ponta dos dedos, mais ou menos como as portuguesas cosem os botões. Detesto o seu estridente timbre metálico e odeio os lânguidos trinados piegas que em Lisboa, dizem, identificam a alma portuguesa, seja lá isso o que for.
Posto isto, Carlos Paredes era um génio. E tinha talento. Apenas um génio com talento seria capaz de tanger a alma com instrumento tão duvidoso.
A alma portuguesa que eu pressinto na sua guitarra vem de mais longe e de mais fundo; é mais forte, mais grave e tem uma afinação mais acima (Coimbra). Possui subtilezas e um lirismo viril que não têm nada que ver com a melíflua e dengosa pieguice dos trinados que se ouvem no país, pelas capelinhas, pelas lezírias ou em Lisboa, pelas vielas.
Este desenho é uma homenagem a um artista que para além disso é uma espécie de mártir dos artistas. A sua longa e terrível agonia representa o pior pesadelo de todos nós: ele suportou sozinho e impotente, durante 11 longos anos, o espectáculo devastador da própria incapacidade física para concretizar o seu talento. Presumo que deve ser isso o fado; ou a alma portuguesa. Ou a puta que pariu.
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1 comentário:

Anónimo disse...

Daqui de bem perto,Cantanhede, lhe agradeço, este início de manhã, com o som de Carlos Paredes... e não só!
Descobrir o seu blog foi um prazer e ,certamente irei demorar por aqui o olhar,sempre que possa.
Parabéns pelo(s) trabalho(s).
Tina---de albertina

mtinaedu@gmail.com