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sábado, 13 de dezembro de 2008

O poeta alegre


Mania das Grandezas

Pois bem, confesso:
fui eu quem destruiu as Babilónias
e descobriu a pólvora...
Acredite, a estrela Sírius,
de primeira grandeza,
(única no mercado)
deixou-me meu tio-avô em testamento.
No meu bolso esconde-se
o segredo das alquimias
e a metafísica das religiões
— Tudo por inspiração!
Que querem?
Sou poeta e tenho a mania das grandezas...
Talvez ainda venha a ser Presidente da República...

Joaquim Namorado

Conheci fugazmente (por volta de 1985) o poeta Joaquim Namorado, que viria a falecer um ano mais tarde. A impressão que dele me ficou foi a de um homem duro, com um temperamento e um carácter algo rígidos, explicados por uma forte convicção comunista e talvez também por uma sólida formação em ciências matemáticas. As suas impressões eram exactas, precisas – matemáticas. Achava que 2+2 são 4, aqui e nos mares do sul; sobre estes chegou mesmo a escrever uma fulgurante e certeira elegia de um só verso: “Eu não fui lá...”.
O poeta não apreciava a estética de plástico e ainda menos a ética de elástico. Abominava o lirismo canalha e o pragmatismo sacana. Desprezava os frouxos, os velhacos e os videirinhos (tudo qualidades que, infelizmente, é frequente encontrar na mesma pessoa).
Há dias, em conversa com alguém que com ele privou, fiquei a saber que o poeta do “Aviso à navegação” não suportava Manuel Alegre (não, não era de uma questão de estética da poética, mas simplesmente de ética, a higiene moral da puta da vidinha).
Acontece que eu também não.
Mas eu cheguei lá por intuição. Não fui agraciado por qualquer espécie de fé ou convicção (não acredito na ponta de um corno) e os meus conhecimentos de matemática são assaz penibles… Embora este episódio - que faria espumar o velho resistente - possa explicar a minha embirração.
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1 comentário:

Manel disse...

Um post e uma caricatura de elevada qualidade.
Muito bem
Cumprimentos
Manel