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sábado, 1 de dezembro de 2007

as boas consciências e o armário dos esqueletos

Agora que estamos em maré de exorcismo colectivo, apaziguamento de consciências, penitência ou acerto de contas com a História (vai já havendo uma quase unânime e politicamente correcta boa-vontade no que respeita à questão judaica), é lamentável que não aconteça o mesmo com outra questão, sempre esquecida ou escondida e, em todo o caso nunca assumida, a questão negra.
- Para quando um Memorial às vítimas do tráfico transatlântico de escravos?




Porão de navio negreiro - Johann Moritz Rugendas

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“Curtin, citado por Joseph C. Miller calcula que 40 % dos (mais ou menos) 10 milhões de escravos africanos desembarcados no Novo Mundo entre 1500 e 1870, iniciaram a terrível passagem do Atlântico nos portos do Congo e da costa de Angola, desde o Cabo Lopez (1 º Sul) até perto do Cabo Frio (18 º Sul).”
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Como nação que inaugurou a actividade e última a abandoná-la, após quatro séculos (1434-1876) de intensiva prática e correspondentes proventos, ficaria bem a Portugal um pequeno e simbólico tributo memorial.
A Santa madre Igreja, que abençoou a santa actividade empresarial, a comunidade judaica ibérica*, que a “empresariou” e dela tirou largos proveitos e o Estado português, cuja economia nela se alicerçou durante quatrocentos anos, poderiam comparticipar a penitência.
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Creio que ficaria bem na Praça do Império.
Em frente aos Jerónimos.
Por trás do monumento aos Descobrimentos.
E ao lado do armazém (showroom) Berardo.
Simbólico, não?
Eu seria o primeiro a assinar a petição.
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“Com os descobrimentos, Portugal entrou no negócio dos escravos. Após a passagem do Cabo Bojador, por Gil Eanes, em 1434, deixou de haver medo de navegar ao longo da Costa de África. Os navegadores começaram a regressar com dezenas de escravos, dos quais um quinto pertencia ao Infante D. Henrique. Assim em 1443, Lançarote, escudeiro do Infante, carregou 235 presas. E assim por diante até 1448, em que já tinham sido resgatados 927 escravos, como diz Zurara, na sua Crónica da conquista da Guiné. Pobre como era o País, nessa altura, os escravos serviam para fazer dinheiro. Os escravos da Guiné tinham de vir todos para Lisboa e muitos eram depois vendidos para Espanha com destino às Índias espanholas.
O negócio fazia-se então por peças de escravos. A peça era um escravo jovem de 15 a 25 anos, com a altura média de 1, 75 m. Três jovens de 8 a 15 anos ou três adultos de 25 a 35 só contavam por 2 peças. Duas crianças de 4 a 8 anos ou dois adultos com mais de 35 anos só contavam por uma peça. Não interessavam as cabeças, mas apenas o espaço que ocupavam e o que valiam para o trabalho.
As crianças acompanhavam as mães e eram classificadas em crias de peito e crias em pé (menos de 4 palmos de altura; com mais, eram moleques ou molecas). Mais antipático era o nome que davam às crias de peito na costa de Moçambique em que eram denominadas bichos nos documentos de embarque.”

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Ver aqui toda a história e até a contabilidade, com todos os pormenores sórdidos, na generalidade e na especialidade.
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*in Os Magnatas do tráfico negreiro, de José Gonçalves Salvador
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1 comentário:

Anónimo disse...

Sr. Fernando Campos, neste momento já deve saber que esta Ana Borges, que tanto aprecia o seu trabalho, é a mulher do Carlos Freitas, imagino que o Alexsandre, seu irmão, já lhe tenha dito, porque o meu marido, chegou a casa um dia da semana passada e disse-me, que já tinha dito ao Alex, quem era a Ana Borges que comentava no seu blog, eu só não o disse desde o princípio, porque não me queria fazer passar por "atrevida" daquele genéro, aproveita-se dos conhecimentos do marido e agora manda uns bitaites, mas não é verdade, om Carlos já me tinha falado que o irmão do Alex pintava muito bem, tinha quadros lindissimos, como acho que já comentei a pintura é um hobby que eu adoro e não tenho jeito nenhum, ainda há uns meses atrás rasguei e deitei fora umas 12 telas, tenho muita dificuldade na visualização do espaço, já andei em aulas, mas eu acredito que a arte é inata, nasce nas mãos do individuo. O meu pai, que era empregado numa retrosaria, a primeira vez que aos 17 anos tocou num cabelo, ficou empregado num dos melhores cabeleireiros de Coimbra, à época, e dois anos mais tarde já tinha o dele, e ganhou imensos concursos, dentro e fora do País, saiu num dos livros do Circulo dos Leitores, Portugal séc.XX. Ele nunca imaginou vir a ser o que foi, até a morte o levar em 29 dias, e deixar 3 cabeleireiros em Lisboa no auge da sua vida, pois ele só tinha 58 anos.
Por isso, eu adorava pintar, mas não tenho jeito, mas adoro "ler" os quadros.
O Victor Matias é meu amigo, e tive alguns quadros dele, que infelismente ficaram noutro lugar.
Peço desculpa de não me ter apresentado.
Ana Borges