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(acrílico s/tela 70x100 – 1999)
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Este quadro foi o desfecho e síntese da série de pinturas (e bastantes desenhos preparatórios) que começou com o Crucificado e me ocuparam quase quatro meses, no fim do ano de 1999. Foi também o melhor sucedido.
Com uma paleta de cores reduzida (preto, branco, ocre, vermelho, os pigmentos naturais, que remetem para as cores do mundo tradicional africano), e que acentuam, com a distorção do desenho, a expressividade do todo - consegui uma solução equilibrada, nas proporções anatómicas, que aproximaram estas três figuras da estatuária clássica Cokwe.
Penso que fui capaz de sugerir, de dar a ver (triste sucesso) a tragédia de gerações de angolanos que assombram, em cortejos de estropiados, um país de fantasmas.
Estes são, reconheço, quadros feios, fortes, intensos, que gritam, interpelam, interrogam o observador. Ninguém lhes fica indiferente. Inquietam. Quem aprecia visões amáveis quase nunca suporta um segundo olhar.
São pinturas pensadas e executadas com intenção, mas não aquela intenção folclórica ou esteticista que tanto agrada ao apreciador de coisinhas decorativas (ou merdas lindas, como diz o meu amigo Filinto Viana), pois aqui não existe espaço para a ligeireza, a inocência ou outras ingenuidades.
Não são, certamente, pinturas para decorar apartamentos.
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