domingo, 31 de janeiro de 2016

Bill & Zika Gates

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O dinheiro só é poder quando existe em quantidades desproporcionadas
Honoré de Balzac

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Existem coisas que detesto tão visceralmente que me pergunto se é saudável. Algumas desde a infância, quando me tentavam instruir com a treta da cigarra e da formiga: nunca gostei da estória e detestei a moral; ainda hoje odeio formigas. Não o animal, claro, mas os valores edificantes que ele representa e que me tentavam fazer respeitar: a fussanguice, a ganância, a acumulação obsessiva.
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Também detesto tudo o que é de plástico. Tudo nele me horroriza. O brilho falso, o cheiro repugnante, a indestrutibilidade, o som desagradável. Falta-lhe a sinceridade do frágil vidro, a honestidade da efémera madeira, a singeleza do perecível papel, a alta-fidelidade do corrosível metal. Trata-se da substância mais vil fabricada pelo homem. A pior coisa que a humanidade fez a si própria (mais ou menos como a escravatura, o capitalismo ou a prostituição infantil).
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Também detesto alguns países. Como a Suíça, por exemplo. A Suíça cobra à entrada qualquer pedido de asilo e mais dez por cento do salário do desgraçado depois deste arranjar trabalho. Ah, como eu odeio a Suíça.
Um dos meus sonhos molhados mais frequentes é com a implosão da Suíça; que depressa contudo se transforma no meu pior pesadelo: a ruptura dos seus inúmeros cofres fortes - que guardam o pecúlio acumulado de todos os ricos da terra, essas formigas – provoca em seguida uma tal avalanche de merda que arrasa para sempre a Itália atolando-a num imenso mar de lama e de lixo tóxico (a Itália é, para quem não saiba, e apesar de todos os seus quês e porquês, a mais bela obra-prima da humanidade, ou pelo menos uma das mais conseguidas). Acordo sempre sufocando, submergido numa estranha e desagradável sensação de culpa (também detesto a culpa, esse resquício da minha formação católica), como se tivesse a boca cheia de terra e de formigas.
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Ah, e odeio os ricos. Tudo neles me parece repulsivo: a moral, os costumes, o estilo, até o gosto. Detesto seres humanos que acumulam riqueza para obter poder sobre os outros.
Mas também abomino sistemas políticos ou económicos, como o capitalismo por exemplo, que permitem que seja possível a um só homem acumular para si tanta riqueza como a que partilham milhões dos seus semelhantes. Sujeitinhos como o boçal Donald Trump; ou o infame Alexandre Soares dos Santos. Ou Bill Gates.
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Bill Gates fez fortuna com uma ideia de sonho: conseguiu convencer as pessoas de que necessitavam de algo que nunca tinham tido antes: um computador pessoal - os computadores pessoais servem, como toda a gente sabe, para resolver problemas pessoais que não existiam se não houvesse computadores. Que são de plástico, claro.
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Bill tornou-se muito rico, o mais rico dos ricos, e criou uma Fundação - de benemerência, claro (tudo o que Bill faz é sempre para benefício dos outros e nunca jamais para seu prejuízo pessoal). 
Bill teve então outro sonho, como o dos computadores. Só que com mosquitos. Bill sonhou que transformar mosquitos em vacinas era uma solução benemérita para acabar com algumas doenças que afligem a humanidade em países pobres e, em simultâneo, lograr destes uma renda fixa que lhe garantiria o aumento exponencial do pecúlio para a eternidade.
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Com a ajuda de cientistas pouco escrupulosos (a Fundação Bill e Melinda Gates pagou a pesquisa) e de elites corruptas e desmioladas de países como o Brasil, as ilhas Caimão e a Malásia por exemplo, conseguiu tornar o sonho possível.
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Só que o sonho molhado de Bill, o super-negócio-humanitário do mosquito-vacina, está a transformar-se no pior pesadelo de todos os países sub-tropicais: o vírus Zika e a microcefalia.
Há, no entanto, quem diga que não foi apenas uma boa ideia que correu mal (como a do Dr. Frankenstein ou a da invenção do plástico) e que se trata isso sim de uma estratégia cínica e deliberada de exterminação; genocídio premeditado - de eugenia, selecção artificial. Iliminação daqueles que os ricos, como Bill, acham inferiores. Controle da população para controlar os bens alimentares. Dinheiro. Poder. Como este vídeo explica:
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Mas Bill não sente culpa. Nem tem pesadelos. Bill nunca acorda com a boca cheia de formigas. Pelo contrário, levanta-se todos os dias mais rico e pavoneia-se com os bolsos cheios de mosquitos. Transgénicos e virais. Repulsivos, venéreos e filhosdaputa. Como ele, insaciáveis pelo sangue dos outros. 
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5 comentários:


  1. O poema de um suíço e que melhor define a Suíça:

    PAÍS DE SONOLÊNCIA

    ... Eis o pesado país
    da indolência, ó Suíça,
    sob as actividades.
    País de sonolência
    esmagado pela beleza.
    Ó meu país mais belo
    que os países sonhados.
    País como um zero
    de solidão, vivemos
    nós próprios como zeros.
    Pesado país de impotência
    e de gelo e país
    de sofrimento mortal
    onde nada, jamais, é dito.
    País onde a palavra
    se abate e se destrói.
    País de mil gritos
    sobre um fundo de silêncio
    absolutamente maldito.
    País onde tudo se compõe,
    onde nada nos une.

    Georges Haldas (Corps Mutilé: Lausanne, 1962)

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  2. EXCELENTE.
    Vou levar, com a devida vénia.

    Abraço

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  3. Muito bem dito. O mais deprimente disto tudo é que quem usa produtos da Micro$oft enquanto consciente dos crimes que o Sr Gates comete contra esta planeta é de certa forma cúmplice.

    Pessoalmente já não uso Windows há mais de 10 anos mas infelizmente o meu emprego depende deste monopólio informático. Linux é a alternativa aberta e grátis, mas quantos de nós nos demos ao trabalho de mudar de sistema operativo? Não muitos. Falar é uma coisa, mas viver de acordo com os nossos valores uma outra infelizmente muito rara.

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